sexta-feira, julho 14, 2006

POR UMA QUESTÃO DE INSPIRAÇÃO

Ele estava ali sentado, tentando escrever algo para passar o tempo. Não tinha nada para fazer. Na verdade até tinha, mas nada importante. Nada que ele não pudesse deixar para semana que vem, como de costume.

A inspiração não vinha. Isso era comum. Ligou o rádio, ouviu as notícias. Pensou em escrever sobre política. Política sempre é um bom argumento. Mas nada. A falta de assunto já estava comprometendo o seu processo criativo.

A verdade era que seu processo criativo já estava comprometido há alguns meses. E sem criação, nada de trabalho. Sem trabalho, nada de dinheiro. Além do dinheiro, ele queria mesmo escrever. Escrever era a sua paixão. Não escrever era sua ruína. Ele precisava daquilo. Mais até do que do dinheiro.

Mas não adiantava. Sua mente estava tão vazia quanto aquele apartamento sujo e mal arrumado que havia arranjado há alguns meses. Era o quinto em dois anos.

Foi quando surgiu a grande idéia. A sacada genial.

- Porque não pensei nisso antes, indagou-se.

Desligou o computador e foi tomar um banho para sair. Finalmente tirou aquela samba-canção que estava usando há uns 8 dias. Desde aquela última vez que saiu de casa para comprar uma coca-cola. Nunca tinha dinheiro, mas aquele líquido preto era um vício, costumava dizer.

Eram três da tarde e a luz do sol ofuscava seus olhos há muito acostumados apenas com o brilho do monitor de seu PC. Colocou um óculos escuro. Presente de seu falecido avô.

Desde que conseguiu publicar uma mini-crônica numa revista de quarta categoria, há uns 4 meses, que suas criatividade não dava o ar da graça. Havia sido seu último trabalho. Antes disso já estava há uns 2 meses sem escrever algo que prestasse.

E pensar que na época do colégio, todos apostavam no seu talento de escritor.

- Futuro Veríssimo, exagerava um professor.

- Grande talento, incentivava um colega.

Porém, o destino lhe pregou algumas peças. Quase cômicas, é verdade. Se não fossem trágicas. Nunca conseguiu se firmar no meio literário. Naquilo que era sua paixão. Conseguia um trabalho aqui, uma publicaçãozinha ali. Uma coisa ou outra que na maioria das vezes garantia o aluguel no máximo.

- Um mercado muito fechado, resignava-se.

Talvez os professores do colégio estivessem enganados. Talvez ele não tivesse todo esse talento. Mas o certo é que, com ou sem talento, a sua constância para escrever era péssima.

Quando houve aquele acidente em que, ao descer do ônibus, tropeçou num buraco e quebrou três dedos da mão esquerda - logo a mão esquerda - além de metade de um dente, aí sim que quase não conseguiu mais criar nada de bom. Ficou semanas sem poder digitar.

Fatos como esse fizeram com que seus textos fossem perdendo a alegria e seus trabalhos fossem ficando ainda mais escassos. Afinal, a alegria era a sua marca registrada. Devo dizer que, por um tempo, chegou até a fazer graça de sua vida desgraçada e nesse ponto admito que foi sua melhor fase como escritor.

Mas depois de tanta coisa errada em sua volta, a comédia foi dando lugar ao pessimismo, às lamentações dessa vida que Deus lhe deu. Além do mais, ninguém queria comprar textos que falavam sobre a falta de dinheiro para pagar o aluguel ou sobre as técnicas que utilizava para não pagar o bilhete do metrô. Essas sacadas já estavam um tanto quanto gastas, já utilizadas por muitos outros escritores em situação parecida. Não colava mais.

Só que a sorte estava para mudar. Sua idéia de agora pouco havia sido muito boa. Perfeita. Uma sacada de gênio. O gênio que ele sempre achou que era. Mas que ninguém nunca compreendeu.

Ah, se ele tivesse idéias como essa sempre. O aluguel com certeza não seria problema.

Ele entrou no Mercadorama e lá encontrou tudo o que precisava. Um maço de papéis e uma boa caneta. Ainda na seção de material escolar, encontrou um kit daqueles que se usavam nas aulas de educação artística. Ele odiava educação artística.

No caixa, teve problemas para pagar a conta. O seu cartão foi recusado. Como sempre. A esperança sempre era a de que o sistema da empresa que administra esses cartões desse algum tipo de pane e seu crédito fosse, milagrosamente, reestabelecido. Não foi dessa vez.

O jeito foi juntar as moedas perdidas naquela calça de moletom surrada que sempre usava quando tinha que sair de casa. Conseguiu efetuar a compra. Tá certo que a senhora que estava aguardando na fila deu uma pequena ajuda. Pelo menos as moedas que estavam na calça deram para pagar a caneta.

Voltando para casa, quase não se continha de entusiasmo. Sua sorte estava para mudar. Seu talento seria reconhecido. Dessa vez ele provaria que viver de literatura era recompensador. Todos veriam que ele era bom sim. Talvez o gênio que seus professores de antigamente apontavam.

Além do mais, ele mostraria para aqueles que duvidaram que escrever também era uma profissão digna.

Muito melhor do que aquele emprego que o irmão de sua madrasta havia arranjado para ele um tempo atrás. Sete longos meses contando alfinetes e os colocando numa caixinha. Tudo isso numa fedorenta fábrica na distante Cidade Industrial. 500 alfinetes em cada caixa. Nem 499 e nem 501. Cada caixa mal contabilizada era um desconto em seu parco ordenado. Isso sem falar nos ônibus lotados para ir e para voltar. Nunca conseguia lugar para sentar.

Sete meses. Alfinetes. Ônibus lotado. Tempos sombrios.

Chegando em casa, colocou a água pra ferver na chaleira. Enquanto isso desembrulhou as novas aquisições excitado como uma criança em véspera de natal. Foi até a cozinha, abriu a geladeira. Dentro apenas um leite coalhado e aquele pedaço de pão com requeijão da noite passada.

Todo esse entusiasmo lhe deu fome. Comeu o pão. Limpou a garganta com a água da pia. Voltou a se concentrar no que estava fazendo. Suas mãos formigavam. Prontas para finalmente voltar a escrever.

Pegou o maço de folhas. A sua grande obra não poderia ser digitada no computador. Perderia todo o sentido. Perderia a poesia do momento. Algumas anotações. Alguns traços rascunhados. E a inspiração veio. E veio com tudo.

Escreveu com paixão. Toda aquela paixão e eloqüência que lhe faltou quando desperdiçou as poucas oportunidades que apareceram ao longo de sua vida.

E conseguiu. A obra-prima. O seu melhor texto. Magnífico.

Nesse momento a chaleira apita. A água estava fervendo. Ele leva a chaleira até o banheiro e despeja seu conteúdo na banheira cheia de limo e mofo que era mantida naquele apartamento antigo em que morava. Misturou com a água da torneira fazendo com que a temperatura ficasse morna. Bem agradável.

Foi até a sala e apanhou o tal kit de educação artística. Sacou o estilete e jogou o resto no sofá. Voltou ao banheiro. Vestiu novamente sua samba-canção de sempre. Cortou os dois pulsos e mergulhou o corpo na banheira com água morna.

Morreu sorrindo. Sabia que seu bilhete de despedida tinha sido o ápice de sua criatividade. Seu melhor trabalho. A Arte pura.

quarta-feira, julho 12, 2006

16 TONELADA

Nasceu o 16 tonelada. Projeto antigo da rapaziada. Eu, Diogo, Rodrigo e a participação do X9. A partir de agora os pensamentos mais profundos vão ser migradas praquele blogue. E esse Na Vala, vai ser utilizado para registro de possível viagem, num futuro nem tão distante.

Clica aqui e vai.

quarta-feira, julho 05, 2006

PRÉVIAS

Agora que a Copa acabou e o Brasil voltou a funcionar, também voltei. Chutei o balde e o Na Vala está pronto para seguir rumos internacionais num futuro próximo.

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