sábado, abril 09, 2005
O GARGANTA
Todos conhecem um.
Estava com pressa. Compromissos familiares marcados para os próximos instantes me IMPEDIAM de perder o foco. Precisava de uma informação de vida ou morte. Mais vida do que morte, eu confesso. De qualquer forma tinha que ser naquele momento. Pois tu sabe como é, né?
Perca a hora para ir trabalhar, para encontrar um amigo, para ver a namorada. Mas com família não dá. Na pior das hipóteses tu vai ser mandado embora do trabalho, vai ficar uns dias sem falar com seu amigo ou vai acabar o namoro. Com PARENTE, tu vai ter que ouvir a GRALHAÇÃO por toda a ETERNIDADE ou até que ele esqueça. O que vier antes.
Entro na loja já de olho no relógio. Precisava de algo simples: um número de telefone, apenas. SETE DÍGITOS rabiscados num pedaço de papel. Ridiculamente simples, eu diria.
Encontro um conhecido no balcão. Penso com meus botões:
- Perfeito, isso vai facilitar as coisas.
Cumprimento o cara e lanço a questão. Explico a urgência e TRANSFIRO a responsabilidade. Aguardo.
Antes de atender meu pedido, ele, GARGANTA que só, precisava comentar do último FERIADO que passou na Guarda muito louco de sei lá o que. Também não poderia deixar de me contar (novamente) sobre o SUCESSO que sua ex-banda fez enquanto a integrava, mas depois que saiu as coisas só DESANDARAM.
- Nem cachê aqueles PUTOS recebem mais. Desabafou num certo momento.
Olho para o relógio outra vez. Beleza, não estou TÃO atrasado. Resolvo ser simpático e troco meia dúzia de amenidades. Volto à questão do telefone e de sua URGÊNCIA para o momento. Vê aí, meu.
Ele começa a mexer no balcão. Finalmente estava procurando o que eu precisava. Que bom. Pega um caderno. Na verdade era uma agenda de telefone. Me animo com a PERSPECITVA de conseguir o que queria.
Antes de abri-lá, confidencia que estava meio acabadão pois, na noite anterior, "METEU PRA CARALHO com uma mina que frequenta a loja". Era importante para o GARGANTA falar isso para mim. Era um prêmio. Afinal, de que adiantaria comer a mina se não tivesse alguém para contar?
Até entendo, mas, DEFINITIVAMENTE, aquele não era um momento OPORTUNO. Seus méritos sexuais POUCO IMPORTAVAM.
- Se deu bem heim, guri. Vamos marcar qualquer hora para tomar uma CEVA, daí tu me explica melhor. Mas e o telefone? Vê para mim aí.
Abre a agenda. Ganho terreno. Agora procura direitinho e deixa eu ir embora.
O telefone toca. O dele. Um amigo querendo saber como havia sido a noite anterior.
- Bombou?
- Bombei.
Eu não possuia ALTERNATIVAS. Só ele tinha aquele número. Consultei as horas novamente e comecei a calcular as possibilidades. No máximo, TRÊS minutos para sair da loja e ligar para o TELEFONE, mais uns DEZ ou DOZE para me dirigir ao local que me orientassem e uns QUINZE para cumprir a missão. É, acho que dá. Mas NÃO POSSO VACILAR.
Formulo esse itinerário enquanto o GARGANTA detalha sua experiência COPULATIVA com uma riqueza de gestos (sim, gestos) e detalhes impressionante, dando ênfase, SEMPRE, ao seu DOM ORGÁSMICO.
Ele faz um sinal para que eu espere. Esperarei. Mais dois minutos e meio. O tempo passa, ensaio uma saída a francesa, ele percebe e desliga o telefone.
- Que era pra ti mesmo? Ah o telefone, perae que eu já sei onde está.
Boa, assim que se fala, manda ver CAMPEÃO.
Volta a folhear a agenda, e suspira:
- Que GOSTOSA, meu. Tu precisava ver. Aqueles peitinhos, que coisa louca...
O tempo vai passando até que:
- Achei!
- Achou?
- Se eu falei que o VÉIO aqui ia conseguir, é porque ia. Anota aí.
Anoto rapidamente e me despeço enquanto o GARGANTA inicia outra NARRATIVA para me contar os louros da fama que vinha colhendo após ter sido nomeado o MELHOR vendedor da rede por quatro meses consecutivos. Um RECORDE, dizia ele.
- Fica pra outra hora, amigo!
Percebo que já estou atrasado, JÁ ERA para o compromisso familiar. Tô fudido. Pelo menos vou conseguir cumprir a missão principal, a do TELEFONE. Entro no carro e disco para o número indicado. Uma voz feminina atende:
- Este número de telefone mudou e não é fornecido a pedido do cliente.
Tu Tu Tu Tu
Estava com pressa. Compromissos familiares marcados para os próximos instantes me IMPEDIAM de perder o foco. Precisava de uma informação de vida ou morte. Mais vida do que morte, eu confesso. De qualquer forma tinha que ser naquele momento. Pois tu sabe como é, né?
Perca a hora para ir trabalhar, para encontrar um amigo, para ver a namorada. Mas com família não dá. Na pior das hipóteses tu vai ser mandado embora do trabalho, vai ficar uns dias sem falar com seu amigo ou vai acabar o namoro. Com PARENTE, tu vai ter que ouvir a GRALHAÇÃO por toda a ETERNIDADE ou até que ele esqueça. O que vier antes.
Entro na loja já de olho no relógio. Precisava de algo simples: um número de telefone, apenas. SETE DÍGITOS rabiscados num pedaço de papel. Ridiculamente simples, eu diria.
Encontro um conhecido no balcão. Penso com meus botões:
- Perfeito, isso vai facilitar as coisas.
Cumprimento o cara e lanço a questão. Explico a urgência e TRANSFIRO a responsabilidade. Aguardo.
Antes de atender meu pedido, ele, GARGANTA que só, precisava comentar do último FERIADO que passou na Guarda muito louco de sei lá o que. Também não poderia deixar de me contar (novamente) sobre o SUCESSO que sua ex-banda fez enquanto a integrava, mas depois que saiu as coisas só DESANDARAM.
- Nem cachê aqueles PUTOS recebem mais. Desabafou num certo momento.
Olho para o relógio outra vez. Beleza, não estou TÃO atrasado. Resolvo ser simpático e troco meia dúzia de amenidades. Volto à questão do telefone e de sua URGÊNCIA para o momento. Vê aí, meu.
Ele começa a mexer no balcão. Finalmente estava procurando o que eu precisava. Que bom. Pega um caderno. Na verdade era uma agenda de telefone. Me animo com a PERSPECITVA de conseguir o que queria.
Antes de abri-lá, confidencia que estava meio acabadão pois, na noite anterior, "METEU PRA CARALHO com uma mina que frequenta a loja". Era importante para o GARGANTA falar isso para mim. Era um prêmio. Afinal, de que adiantaria comer a mina se não tivesse alguém para contar?
Até entendo, mas, DEFINITIVAMENTE, aquele não era um momento OPORTUNO. Seus méritos sexuais POUCO IMPORTAVAM.
- Se deu bem heim, guri. Vamos marcar qualquer hora para tomar uma CEVA, daí tu me explica melhor. Mas e o telefone? Vê para mim aí.
Abre a agenda. Ganho terreno. Agora procura direitinho e deixa eu ir embora.
O telefone toca. O dele. Um amigo querendo saber como havia sido a noite anterior.
- Bombou?
- Bombei.
Eu não possuia ALTERNATIVAS. Só ele tinha aquele número. Consultei as horas novamente e comecei a calcular as possibilidades. No máximo, TRÊS minutos para sair da loja e ligar para o TELEFONE, mais uns DEZ ou DOZE para me dirigir ao local que me orientassem e uns QUINZE para cumprir a missão. É, acho que dá. Mas NÃO POSSO VACILAR.
Formulo esse itinerário enquanto o GARGANTA detalha sua experiência COPULATIVA com uma riqueza de gestos (sim, gestos) e detalhes impressionante, dando ênfase, SEMPRE, ao seu DOM ORGÁSMICO.
Ele faz um sinal para que eu espere. Esperarei. Mais dois minutos e meio. O tempo passa, ensaio uma saída a francesa, ele percebe e desliga o telefone.
- Que era pra ti mesmo? Ah o telefone, perae que eu já sei onde está.
Boa, assim que se fala, manda ver CAMPEÃO.
Volta a folhear a agenda, e suspira:
- Que GOSTOSA, meu. Tu precisava ver. Aqueles peitinhos, que coisa louca...
O tempo vai passando até que:
- Achei!
- Achou?
- Se eu falei que o VÉIO aqui ia conseguir, é porque ia. Anota aí.
Anoto rapidamente e me despeço enquanto o GARGANTA inicia outra NARRATIVA para me contar os louros da fama que vinha colhendo após ter sido nomeado o MELHOR vendedor da rede por quatro meses consecutivos. Um RECORDE, dizia ele.
- Fica pra outra hora, amigo!
Percebo que já estou atrasado, JÁ ERA para o compromisso familiar. Tô fudido. Pelo menos vou conseguir cumprir a missão principal, a do TELEFONE. Entro no carro e disco para o número indicado. Uma voz feminina atende:
- Este número de telefone mudou e não é fornecido a pedido do cliente.
Tu Tu Tu Tu